Marcha das Mulheres Negras ocupa as ruas de Salvador e mostra a força da ancestralidade

Com a força da ancestralidade e a certeza do passo em frente rumo à destruição do patriarcado e do racismo, centenas de mulheres negras promoveram um verdadeiro aquilombamento pelas ruas de Salvador. Unidas, nem a chuva atrapalhou a marcha, que foi da Praça da Piedade até o Pelourinho, nesta sexta-feira (25), Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, e Dia de Tereza de Benguela. Atuante no apoio aos movimentos sociais, a ADUNEB ajudou na construção da atividade.
Assim como aconteceu em anos anteriores, as mulheres negras denunciaram o racismo estrutural e a violência por meio de cartazes, faixas e falas no carro de som, com o microfone socializado democraticamente a todas que desejavam se manifestar. Na cabeça, turbantes. Nas roupas, a influência da cultura africana. No olhar, a garra de quem é forjada na luta e nos passos que vêm de longe.
Para uma das lideranças da Rede de Mulheres Negras do Estado da Bahia, Lindinalva de Paula, a data é uma celebração, mas também um momento de reflexão. “Nós estamos na Marcha pelo bem viver e por reparação. Para isso, o Estado tem que reparar toda a sua estrutura racista. Queremos a garantia de uma política de bem viver, que tem um outro modelo de desenvolvimento sustentável, um desenvolvimento que traga ancestralidade, que consiga incluir todas as populações, toda a diversidade. Ele (Estado) tem que reparar os erros causados por essa estrutura racista, afirmou.
ADUNEB presente na Marcha
Residente em Teixeira de Freitas, a 800 km da capital baiana, a coordenadora Geral da ADUNEB, Karina Sales, veio exclusivamente para participar da Marcha. Ela falou da importância da atividade para a luta das mulheres negras. “É com as matriarcas que estão aqui, com as mais novas que virão depois, que a gente precisa aprender todos os dias. Aprender a lutar e resistir, porque é assim que conseguiremos modificar essa sociedade. Nossa luta é contra o racismo estrutural e sistêmico, que nos assola, nos mata diariamente. A ADUNEB defende que sigamos juntas, para ajudar a construir e a levar mais mulheres para a marcha nacional, que acontecerá em novembro, em Brasília”, comentou a professora.
Desemprego
A ativista do movimento negro, professora, filósofa e antropóloga brasileira, Lélia González, falecida em 1994, dizia que a mulher negra é o grande foco das desigualdades sociais na sociedade. Quando a questão é o desemprego, as pesquisas denunciam que a taxa mais alta é a das mulheres negras, que são impactadas com o dobro do desemprego dos homens não negros. No último trimestre de 2024, no Brasil, eram 7,5 milhões de desocupados, sendo a taxa média de desemprego de 6,9%. Para as mulheres negras, essa taxa saltava para 10,1%, enquanto os homens não negros eram de apenas 4,6%. Os índices são da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), órgão que pertence ao Ministério do Trabalho.
Nem a chuva diminuiu a fibra das mulheres negras em luta
Violência
A exclusão do mercado de trabalho, entre outros fatores, leva à marginalização econômica e social, fatores que, aliados ao machismo estrutural e ao patriarcado, contribuem para a violência doméstica, sobretudo à mulher negra. Segundo a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, 66% das negras agredidas são de baixa ou não possuem renda. Dessas, 85% convivem com os seus agressores. A pesquisa ouviu 14 mil mulheres, no segundo semestre de 2023.
História da Marcha
Segunda as organizadoras da Marcha Nacional das Mulheres Negras, em 2015 mais de 100 mil mulheres negras do Brasil marcharam contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver. A ação contribuiu de maneira definitiva para a organização política das mulheres negras no Brasil e na América Latina. Dez anos depois, no dia 25 de novembro de 2025, será realizada nova marcha, em Brasília. Milhares marcharão para romper com as estruturas racistas e lutar contra o preconceito e pela reparação histórica.
Assim como na marcha de Salvador, nesta sexta-feira (25), a ADUNEB também seguirá aliada aos movimentos sociais e contribuirá para a construção da Marcha Nacional, na Capital Federal.
