Povo Pataxó sofre novo ataque no Extremo Sul da Bahia



O povo Pataxó do território Comexatibá, no Extremo Sul da Bahia, foi novamente vítima de ataques de fazendeiros e pistoleiros. Nesta quarta-feira (1), durante a tarde, cerca de 40 homens armados invadiram a Aldeia Kaí e fizeram vários disparos. A liderança indígena, Ricardo Oliveira, embora tenha recebido cinco tiros, não corre risco de morte. Paulo Pataxó, também atingido, teve lesão leve. Além dos feridos, o ataque impôs muito pânico a toda a comunidade, principalmente às crianças e aos idosos. A denúncia e as informações foram divulgadas nas redes sociais oficiais do Conselho de Caciques Pataxó, da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e da Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo Sul da Bahia (FINPAT).
Segundo as entidades denunciantes, na mesma quarta-feira do ataque, pela manhã, durante a reunião ordinária do Fórum dos Territórios Ancestrais, promovida pelo Ministério dos Povos Indígenas, Ricardo Oliveira já havia denunciado o medo e a ameaça de um ataque à Aldeia Kaí. Poucos dias antes, ele teria identificado na Vila de Cumuruxatiba um possível mandante das atuais ações violentas. Na reunião do Fórum participavam diversos órgãos públicos, a exemplo da Força Nacional de Segurança Pública, do Ministério Público Federal, da Polícia Federal, da FUNAI e do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Na nota de denúncia divulgada nas redes sociais, o Conselho de Caciques afirma que a ação desta quarta-feira faz parte de um ciclo de ataques promovidos por grupos armados ligados a interesses do latifúndio, da especulação imobiliária e de grileiros de terras indígenas, que transformam o Extremo Sul da Bahia em palco de sangue e injustiça.
Após o atentado, de acordo com divulgações do Conselho de Caciques Pataxó e do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (MUPOIBA), a Força Nacional interceptou um ônibus com mais de 40 pessoas e um veículo particular, que teriam participado do ataque. Ainda segundo as publicações das entidades indígenas, os próprios ocupantes do ônibus teriam confessado que receberam, cada um, R$ 500 para participar da ação criminosa, enquanto o motorista teria recebido R$ 1.000.
Ônibus interceptado pela Força Nacional - Foto: Pataxós
Vídeo divulgado pela APIB mostra o desabafo de um integrante da comunidade Pataxó. “Até quando nós, povos indígenas, teremos que chorar pelos nossos mortos? Pelo nosso sangue derramado? Até quando nossas lideranças serão criminalizadas por defender a vida e nossos territórios, enquanto pistoleiros e fazendeiros andam por aí impunes e armados?” Em outro trecho, ele lamenta: “O que recebemos em troca? Silêncio e omissão das autoridades. Nenhum fazendeiro preso, nenhum pistoleiro punido. Enquanto isso, mais sangue indígena vem sendo derramado dentro desses territórios”.
Em manifestação de solidariedade ao povo Pataxó, a Coordenadora Geral da ADUNEB, Karina Sales, pediu justiça e reparação histórica. “Nossos povos originários precisam de proteção e de seus direitos ancestrais à terra e à vida reconhecidos pelo Estado brasileiro. Esses ataques só acontecem porque existe uma conivência dos entes públicos e uma insegurança jurídica, criada pelo Congresso Nacional, com a aprovação do Marco Temporal. É urgente o reconhecimento e a demarcação das terras indígenas, tanto no Extremo Sul da Bahia quanto em todo o país”, finalizou a professora.
