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8 de Março – Mulheres ocupam as ruas, denunciam violências e reivindicam direitos iguais



 Pouco a comemorar, muito a lutar e um patriarcado inteiro a destruir. Diante desse cenário, mas com muita garra e disposição, centenas de mulheres de coletivos do Movimento Feminista, entidades sindicais, movimentos sociais, partidos políticos, entre outros, ocuparam as ruas de Salvador, neste 8 de março – Dia Internacional da Mulher. Como já é tradição, a ADUNEB marcou presença nas lutas, que ocorreram em vários locais.

Na primeira dessas atividades, coletivos de mulheres de partidos políticos, sindicatos, centrais sindicais, entre outras entidades, marcharam do Largo do Campo Grande à Praça Castro Alves. Munidas de camisas temáticas, faixas, bandeiras, cartazes e um caminhão de som, elas denunciaram a violência, o assédio sexual e moral, a exploração e reivindicaram igualdade de direitos no mercado de trabalho e demais setores da sociedade.  

Uma das representações da ADUNEB na Marcha 8M foi a professora Maria Izabel Lopes de Araújo, coordenadora da pasta de Formação Político-Sindical e Relações Intersindicais. “A Marcha simboliza resistência, protesto! É uma manifestação que visibiliza as lutas urgentes das mulheres: contra o feminicídio, o assédio sexual, o estupro e todas as outras formas de violências. Também a exploração trabalhista, pois nós ganhamos em média 25% a menos, desempenhando as mesmas funções que os homens”. Izabel relembra que as violências contra as mulheres ocorrem em todas as categorias e segmentos sociais, por isso a necessidade de união. “É necessário se aproximar das mulheres das diversas categorias da classe trabalhadora, a exemplo de garis e camelôs. Entender como elas gostariam de ingressar nessas lutas, que são delas também. O 8M é um dia de luta, sororidade com todas que sofrem, que precisam de nossa ajuda”, pontuou a Coordenadora da ADUNEB.
 
Representantes da ADUNEB no Campo Grande:
profs. João Pereira, Clóvis Piáu, Tânia Bonfim e Izabel Araújo
Violência

Dados divulgados na imprensa, na quinta-feira (07), evidenciaram o quanto a violência contra a mulher, fruto do machismo e da misoginia, ainda impacta a sociedade. Na Bahia, em 2023, foram registrados 129 assassinatos de mulheres e 70 feminicídios. O levantamento do boletim “Elas Vivem: Liberdade de Ser e Viver”, mostra o território baiano como o mais violento dos oito estados pesquisados (Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia). Além dos números citados, ainda ocorreram 84 tentativas de feminicídio/agressão física, 29 tentativas de homicídio, 27 casos de violência sexual/estupro, 12 casos de cárcere privado, 11 de sequestro, dez de agressão verbal, cinco casos de trans feminicídio e dois de tortura.

Em outra pesquisa, essa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os dados alarmantes mostram que, em 2023, a cada 6 horas uma mulher faleceu por feminicídio. Ao todo foram 1.463 vítimas, o que corresponde a um aumento de 1,6% se comparado a 2022. Segundo o Fórum, esse foi o maior registro desde que a Lei do Feminicídio (Lei 13.104/15) entrou em vigor.

Pelourinho

O Ato 8 de Março, realizado no Terreiro de Jesus - Pelourinho, também foi marcado por reivindicações contra a violência e por direitos iguais às mulheres. As manifestações foram realizadas por meio de expressões artísticas, a exemplo de recital de poesias e a apresentação das Sambadeiras do Candeal. Organizado pela Rede de Mulheres Negras, o evento teve diversas falas de integrantes dos movimentos sociais, docentes de universidades e de várias entidades que compõem a Rede. 

Professora do Departamento de Ciências da Vida, da UNEB de Salvador, e integrante do Conselho Fiscal da ADUNEB, Lilian Marinho participou da organização do evento. Ela ressaltou a importância de manifestações em lugares diferentes da cidade. “Estar em espaços distintos, em diferentes bairros, permite levar nossas pautas a um número maior de mulheres, oferecer condições para que se manifestem livremente, falem de suas dores, sobre as estratégias de sobrevivência”. Liliam também defendeu escuta maior dos sindicatos aos movimentos sociais para a organização da luta. “É importantíssimo que os sindicatos dialoguem de maneira mais próxima com os movimentos sociais, porque são segmentos que expressam algo que é diferente do que os partidos expressam”, afirmou.
                                                                                                                                                     Imagem: Profª Lilian Marinho
Arte é resistência - apresentação das Sambadeiras do Candeal, no Pelourinho

Acampamento Mulheres do Campo e da Cidade

Sempre em sintonia com as lutas travadas pelos movimentos sociais e reconhecendo a importância para a sociedade, a ADUNEB foi uma das apoiadoras do 13º Acampamento Mulheres do Campo e da Cidade, entre os dias 6 e 8 de março, em Salvador. Realizado pelo MST e construído com outros 22 movimentos e coletivos, cerca de 800 mulheres estiveram reunidas no Parque de Exposições da cidade reivindicando seus direitos.

Segundo Eliana Oliveira, da Direção Estadual do MST, a principal luta do acampamento foi a retomada da democracia e a denúncia das violências contra as mulheres. "A nossa luta é pedir justiça também pela Mãe Bernadete e pela Nega Pataxó, tendo em vista o número grandioso das violências que as mulheres sofrem, mas também um um movimento chamado invasão zero que está instaurado na Bahia pelos fazendeiros, uma milícia rural que está dada", explicou Eliana.

Com o tema "Lutaremos por Nossos Corpos e Territórios: Nehuma a Menos!" o acampamento promoveu durante os três dias debates, rodas de conversa e oficinas. Na manhã da sexta-feira, 8 de março, as mulheres também realizaram uma manifestação na Avenida Paralela para externar a angústia das mulheres em relação ao crescente número de mortes de pessoas negras, em especial, das mulheres negras. 
                                                                                                                                                                                                Foto: MST - BA
Manifestação de mulheres durante o acampamento