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Especial 8 de março

8 de Março
Dia Internacional de Luta da Mulher

Hoje, 8 de março, é comemorado o dia Internacional da Mulher. A ADUNEB reserva neste boletim eletrônico uma homenagem especial a todas as mulheres trabalhadoras que possuem, muitas vezes, dupla ou tripla jornada de trabalho. Diante da existência do machismo, a ADUNEB reafirma a luta contra a opressão que somente intensifica a exploração da mulher na sociedade atual.

As mulheres trabalhadoras têm mostrado, historicamente, a sua força contra o machismo e a exploração. Participaram de importantes greves operárias no final do século XIX, conquistaram o direito ao voto, ao divórcio, construíram suas organizações feministas, estão nas diretorias dos sindicatos, e, aliadas aos trabalhadores, levantam a bandeira de salário igual para trabalho igual, creches e lavanderias públicas, ampliação da licença maternidade, pelo amplo acesso à educação sexual e contraceptivos, contra a violência à mulher, entre outras reivindicações.

Neste 8 de março, como diz a música de Milton Nascimento, “é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre” para dar continuidade a luta das mulheres e arrancar ainda mais vitórias!


 
História: 100 anos do Dia Internacional da Mulher

Existem várias versões sobre a história do 8 de março. A mais conhecida faz referência ao  8 de março de 1857,  quando operárias de uma fábrica de tecidos, em Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica por melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de função) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. A manifestação foi reprimida, as mulheres foram trancadas dentro das fábricas, que foi incendiada pelos patrões, provocando a morte de 129 operárias.

100 anos atrás, no II Congresso Internacional das Mulheres Socialistas (Copenhague, Dinamarca, 1910), Clara Zetkin propôs  essa data para lembrar a luta das trabalhadoras do mundo inteiro por melhores condições de vida e trabalho. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas).
 
8 de março é, portanto, uma data classista e feminista, contra o machismo e a exploração.
 
A situação da mulher hoje

Apesar de sermos 50% da população mundial, 41% da população economicamente ativa em pleno século XXI e dos avanços conquistados ao longo dos anos, a situação das mulheres trabalhadoras ainda é muito ruim. Dados do Unicef e da Unesco revelam que dos cerca de um bilhão de analfabetos existentes, dois terços são mulheres. Ao cumprir os 18 anos, as garotas têm em média 4,4 anos menos de educação que os homens da mesma idade. E dos 121 milhões de crianças não escolarizados no mundo, 65 milhões são meninas.

 Dos mais pobres do mundo, 70% são mulheres. Além disso, seguimos ganhando salários menores que os dos homens (entre 20% e 30% a menos que os homens, segundo a OIT). A ONU estima que o trabalho não remunerado da mulher no lar representa um terço da produção econômica mundial.

A cada quatro segundos, uma mulher é vítima de violência no Brasil. Segundo o Unicef, 25% das mulheres latino-americanas já sofreram algum tipo de violência em casa. Informações do Banco Mundial revelam que pelo menos 20 por cento das mulheres do mundo sofreram maus tratos físicos ou agressões sexuais.

Ao longo dos tempos, as mulheres arrancaram grandes conquistas. No entanto, como os dados mostram, ainda temos muito a conquistar.
 
Todas as vidas
Cora Coralina*
 
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...

Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho,
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira.
– Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos.
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera das obscuras.

* Cora Coralina chamava-se, de batismo, Ana Lins do Guimarães Peixoto.  Cora Coralina era poetisa, mas também contista, cronista de mão cheia e jornalista. O dom da escrita a acompanhava desde cedo. Aos 15 anos de idade, tornou-se Cora, uma maneira de esconder sua verdadeira identidade, pois naquela época “moça direita” não perdia tempo com escritos." Teve seis filhos. Trabalhadora, mão e esposa foi costureira, vendedora de livros, comerciante. Mas ainda assim, nunca deixou de escrever.

Com a poesia de Cora Coralina, homenageamos todas as mulheres unebianas, baianas, brasileiras e do mundo inteiro pela sua força e história de luta!