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ADUNEB debate Neoliberalismo e os impactos na classe trabalhadora



 Uma análise histórica sobre o Neoliberalismo, seus impactos na classe trabalhadora, no movimento sindical e as novas formas de organização do trabalho. Assim foi a primeira atividade do Ciclo de Palestras: O Movimento Sindical no Neoliberalismo, realizada nesta segunda-feira (06). O convidado foi o professor Ricardo Moreno, docente do Curso de História, do Campus da UNEB de Alagoinhas, e que atualmente exerce o cargo de Secretário Especial de Articulação Interinstitucional da Reitoria da universidade. A moderação do evento foi de responsabilidade da professora Edineiram Maciel, Coordenadora de Subseções Departamentais da ADUNEB. Assista aqui a palestra completa.

Na palestra, as reflexões do professor Ricardo Moreno foram alicerçadas em quatro tópicos. No primeiro, para explicar como surgiu o Neoliberalismo, o docente fez uma contextualização histórica desde meados do Século XX. Sua abordagem implicou o pós Segunda Guerra Mundial e a quebra do Acordo de Bretton Woods, por parte dos Estados Unidos, que desvalorizou o dólar e aumentou os juros para países que haviam contraído empréstimos. Moreno também citou o fim do paradigma econômico desenvolvimentista (Era Keynesiana) e chegou até o surgimento de um novo modelo de consenso internacional, chamado de Neoliberalismo. Nesse período os países passaram a valorizar o Capital Financeiro em detrimento do Capital Produtivo. O Professor Ricardo ressaltou que o Neoliberalismo é uma agenda política e não uma fase estrutural do Capitalismo, portanto não é algo inevitável, tal modelo precisa e deve ser combatido politicamente.

Papel do Estado

O papel do Estado no Neoliberalismo foi o segundo tópico de reflexão de Ricardo Moreno. Segundo o professor, em tese, na lógica neoliberal o Estado é restrito a poucas estruturas, com a atenção especial à função da segurança pública, sobretudo, da propriedade privada. Assim, toda a agenda de serviços públicos à população é preterida, a exemplo de saúde e educação. Tais serviços são substituídos pela concorrência privada. Impera o conceito de que a livre concorrência de mercado regula a economia, equilibra os preços e qualifica os serviços. Ricardo Moreno alertou para a falsa premissa de que liberais são contra o Estado. Eles são favoráveis, pois é o capital público que salva o capital privado quando está em crise. Se um banco privado está com problemas financeiros é o Estado que será acionado para socorrer e garantir a continuação da especulação financeira.

As/os trabalhadoras/os

No terceiro tópico o professor Moreno explicou que a imposição da agenda neoliberal lançou trabalhadoras/es a uma ação estratégica de defesa. Por discrepância de forças na disputa política, a classe trabalhadora deixou de reivindicar novas conquistas e passou a lutar pela garantia de direitos já adquiridos. Assim, as consequências do neoliberalismo prejudicaram trabalhadoras/es de todo o mundo, mas com maior ênfase nos países subdesenvolvidos, decorrentes do Capitalismo Tardio. “Dentro dessa fase defensiva, a luta dos trabalhadores se reduziu, por exemplo, à garantia do emprego, luta por salários atrasados, respeito à jornada de trabalho e contra a carestia”, afirmou o docente.

Luta de classes e novas formas de organização do trabalho

 O último ponto abordado por Ricardo Moreno foi a centralidade da luta de classes diante das novas formas de organização do trabalho. No final do séc. XX, houve a transformação da indústria de base, de bens de consumo duráveis para a indústria de tecnologia. A mudança no padrão tecnológico, com ampliação da produção e menor mão de obra, teve como consequência a crise da indústria tradicional e o desemprego estrutural. O aumento das tecnologias, a falta de emprego e a precarização do trabalho propiciaram o surgimento do trabalho vinculado às plataformas digitais (uberização), o que aprofundou a retirada de direitos como férias remuneradas, FGTS, licença-maternidade e carteira de trabalho. Segundo Moreno, a nova realidade levou a perda do papel social das organizações das/os trabalhadoras/es. Há uma migração das causas sociais coletivas para causas particulares, que levam a uma fragmentação da luta com o abandono de um projeto de transformação mais ampla da sociedade. 

Desafios

O docente do Campus de Alagoinhas concluiu suas reflexões abordando os desafios do Movimento Sindical diante da nova e complexa realidade. De acordo com Ricardo Moreno, a nova forma de organização do trabalho trouxe como consequência uma questão de subjetividade, de como o/a trabalhador/a se compreende enquanto classe. O historiador afirma que problemas novos não serão solucionados com soluções antigas. “Precisamos renovar a forma de organização (do Movimento Sindical) para atingir essa massa de trabalhadores e reorganizarmos o centro da luta do trabalho contra a exploração do trabalhador”. O professor conclui: “O que mudou foi a forma de organização do trabalho. A contradição fundamental do Capitalismo nunca deixou de ser a do Capital versus Trabalho”.