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Marcha das Mulheres Negras ocupou as ruas de Salvador contra o racismo e o machismo



 Como afirma Jurema Werneck: "Os nossos passos vêm de longe". A força da ancestralidade e a resistência das mulheres negras ocuparam as ruas do Centro Histórico de Salvador, nesta terça-feira (25). A passeata “Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver!” foi uma das ações que integram a agenda do 11º Julho das Pretas, em Salvador. Segundo as organizadoras, cerca de 45 entidades da Capital Baiana e do interior do estado constroem em unidade as atividades deste mês, que reivindicam uma sociedade mais justa, sem racismo, misoginia, machismo e patriarcado. A ADUNEB apoiou a organização e marchou ombro a ombro com as mulheres negras nesse momento histórico de aquilombamento.

O relógio marcava 14h. Sem temer o Sol escaldante da Praça da Piedade, elas foram chegando aos poucos, sozinhas ou em grupos. Eram centenas de mulheres das mais variadas idades, também adolescentes, crianças e senhoras idosas. Em todas a mesma fibra, coragem, o mesmo desejo de lutar por seus direitos e romper com os paradigmas reacionários da branquitude. Usavam roupas coloridas, turbantes, adereços que remetiam à cultura afro-brasileira. Unidas, marcharam até o Terreiro de Jesus, no Pelourinho.

Uma das lideranças do Movimento de Mulheres Negras Dandara do Sizal, Cleuza Juriti, veio junto com seu coletivo exclusivamente da cidade de Serrinha para a Marcha. “Nosso movimento (de mulheres negras) tem o objetivo de fazer o enfrentamento ao racismo e defender o bem viver. A Marcha vem fazer com que a gente desperte, denuncie o racismo. Nós, do interior, somos muito invisibilizadas por essas questões. Esse é um momento de fortalecermos as organizações que trabalham diretamente com as mulheres negras”, explicou Cleuza.  
 

Chega de genocídio!

Integrante do grupo de organizadoras da Marcha, Lindinalva de Paula, da Rede de Mulheres Negras da Bahia, frisou que a passeata era mais um dia de luta entre tantos outros. “Nós, mulheres negras, levantamos todos os dias lutando contra todas as opressões que atravessam o nosso corpo”. Ela lembrou a lamentável morte de Gabriel da Conceição Júnior. A criança, de apenas 10 anos, segundo testemunhas, enquanto brincava teria sido vítima de um tiro no pescoço, no domingo (23), durante uma operação da PM de Lauro de Freitas. “Hoje, caminhamos com dor, pela perda de mais uma criança negra. Exigimos câmeras nos fardamentos dos policiais, porque a gente não aguenta mais. A embromação vem desde Rui Costa” (referência ao último governador da Bahia). 

Força ancestral

A quilombola Denise Santana, com 79 anos, da Coordenação Nacional de Entidades Negras – Conen-Mulher, andava pela concentração da Marcha com uma bengala nas mãos, mas a determinação era tanta, que quase nem a apoiava no chão. “Minha energia vem dos meus guias espirituais, sou filha de Iansã e meu pai Ogum. Ver essa mulherada aqui é uma felicidade. Buscamos a unidade na diversidade. Saber conviver com a pedagogia da diferença. Nesse momento, em que vejo várias entidades aqui presentes, percebo que cada vez mais temos que fazer esse laço. Nossos ancestrais deixaram um legado de resistência e luta contra tudo o que nos destrói, que pertence ao capitalismo selvagem. Queremos construir um novo projeto de sociedade que nos inclua”, ressaltou Denise. 

Ombro a ombro

Uma das representações da ADUNEB na Marcha era a professora Iris Verena Oliveira, Coordenadora de Gênero, Etnia e Diversidade da seção sindical. Para ela, o machismo, a misoginia e o racismo aparecem no cotidiano das mulheres negras. “Essas opressões surgem de diversas formas como na desigualdade salarial, maiores índices de violência doméstica e no temor que temos quando nossas filhas e filhos saem às ruas. A Marcha é um momento para que, juntas, possamos marcar o nosso grito, o nosso brado, em relação a essas opressões. E a ADUNEB, mais uma vez, está aqui apoiando os movimentos sociais, marcando essa parceria com o movimento de mulheres negras, que já é histórica na nossa seção sindical”, finalizou a docente.
 
Profª Lilian Marinho. ADUNEB parceira na luta dos movimentos sociais