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Lagoa do Abaeté: pelo respeito ao solo sagrado para as religiões de matrizes africanas



 A ADUNEB reafirma solidariedade e apoio às manifestantes e aos manifestantes de religiões de matrizes africanas, ambientalistas e moradoras e moradores do bairro de Itapuã que realizaram, no último dia 10, mais um protesto contra o desrespeito e o preconceito religioso de que estão sendo vítimas. Na ocasião, o prefeito de Salvador, Bruno Reis, esteve na Lagoa do Abaeté para assinar a ordem de serviço que autoriza o começo das obras que a prefeitura está impondo ao local.

Segundo manifestantes, a gestão municipal não abre espaço para ouvir a comunidade sobre o projeto de urbanização da região da Lagoa do Abaeté que, entre outras modificações estruturais, tenta impor a construção de uma sede, inclusive com auditório, acompanhada de recantos e mirante. A intervenção nas dunas de Itapuã, solo sagrado para as comunidades religiosas de matrizes africanas, será realizada em uma área de aproximadamente 5.700 m² e custará cerca de R$ 5 milhões.

Preconceito e desrespeito

Outra crítica das pessoas que se manifestam contra tais mudanças na área em questão é contra o Projeto de Lei que tramita na Câmara de Vereadores de Salvador, PL 411/2021. De autoria do parlamentar Isnard Araújo (PL), a proposta prevê que o local, em vez de Dunas da Lagoa do Abaeté, seja denominado de "Monte Santo Deus Proverá". O novo nome seria uma maneira de homenagear os grupos evangélicos e neopentecostais que realizam cultos no local. 

Após forte resistência, o prefeito de Salvador, no mesmo dia 10, afirmou à imprensa que embora exista o PL, não é cogitada a possibilidade de alteração do nome das dunas. Para a ADUNEB, o posicionamento de Bruno Reis é uma demonstração da forte mobilização e resistência da população. Lideranças religiosas de matriz africana ressaltam que os cultos evangélicos existentes no local são amplamente respeitados, fortalecendo os preceitos do Estado laico. 

Agressão

Durante o protesto do dia 10, embora a manifestação fosse pacífica, no momento em que Bruno Reis se retirava do local, várias pessoas foram agredidas por seguranças de sua comitiva. Entre elas, Mãe Jaciara Ribeiro, de 75 anos, Yalorixá do terreiro Axé Abassá de Ogum, e o Ogan Alan Oliveira (Terreiro Ilê Axé Araká), representante da Frente Nacional Makota Valdina. Jogado ao chão, ele teve os óculos quebrados.

A ADUNEB reivindica o respeito a todas as religiões de matrizes africanas e suas práticas. A fé ancestral que fundamenta e constitui parte da cultura nacional e milhões de brasileiras e brasileiros exige a consideração de sua importância e o seu reconhecimento histórico. 

Pelo fortalecimento do Estado laico.

Coordenação Executiva ADUNEB