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Práticas machistas e exposição pública violentam mulheres em espaços institucionais de poder



 As violências de gênero perpetradas pela influência cultural, patriarcal e misógina também se manifestam no cotidiano dos espaços institucionais de poder. Esses lugares ainda conservam a ideia da suposta superioridade masculina e a opressão de alguns homens para com as mulheres se expressa das mais variadas formas. O enfrentamento às tentativas de silenciamento e/ou desqualificação de nós mulheres é luta constante. Nesse sentido, práticas machistas evidenciam-se na defesa de opiniões e atitudes que se opõem à igualdade de direitos entre os gêneros. Isso nos impõe, para além do dever de combatê-las, o esforço de discerni-las e desnaturalizá-las.

São assédios de diversos tipos, como menosprezo ao feminino, violências em relacionamentos afetivos e nas relações sociais e profissionais. No atual contexto de pandemia, em que as relações sociais e de trabalho são intermediadas por ferramentas tecnológicas, esses processos adquirem, infelizmente, intensas e perversas conotações devido à exposição da vida e da intimidade. Um terreno propício a equívocos, “acidentes” e, também, ataques. 

Todos/as estamos suscetíveis à crítica, especialmente quando assumimos posições diante de temas e questões polêmicas que dividem opiniões. Faz parte do jogo democrático do Estado de direito que garante as liberdades individuais e de expressão. Entretanto, quando essa crítica se reveste de perversidade, com nítida intenção de destruir o/a outro/a; quando aproveita-se da liberdade de criticar para disseminar preconceitos e desconstruir a imagem de alguém, tal atitude precisa ser repudiada com veemência.

Faz parte das estruturas do que se pensa, dos significados dos discursos, o tom, o léxico e a sintaxe das expressões que se emprega. É inadmissível, desta maneira, que, com a alegação de se realizar a justa crítica, se descambe para grosserias que reforçam velhas chagas como o racismo, a misoginia, a homofobia, a xenofobia, entre outras. Tratam-se de manifestações que precisam ser erradicadas e estar superadas em um universo autenticamente humano e democrático.

A coordenação da ADUNEB, sempre intransigente contra esses pendores arcaicos e segregacionistas, que constituem comportamentos e se reproduzem enquanto hábitos culturais quando não enfrentados, não pode tolerar ou se omitir diante de posições discriminatórias. Não é surpreendente, contudo, que essas exteriorizações de cunho desrespeitoso e viés discriminatório recaiam, em geral, muito mais sobre pessoas que, apesar dos seus marcadores identitários historicamente discriminados, conseguiram alcançar posições relevantes nos espaços públicos. Casos e situações desse tipo se avolumam e ganham contornos mais nítidos. A avaliação pública de atitudes intencionais ou não, não pode ser pretexto para insuflar estigmas, ressentimentos e destilar preconceito de raça, etnia, gênero, orientação sexual, classe social e capacitismo. 

No caso da universidade, quer seja na docência, na pesquisa, na gestão ou na entidade sindical, verifica-se episódios de desrespeito, exposição pública e escracho que tem a clara intencionalidade de fazer uso político em uma perspectiva que empobrece o debate de ideias, próprio à natureza da instituição. A política universitária não pode se alimentar de fofocas e dispositivos de censura e assédio. Na UNEB, especialmente, as mulheres têm assumido espaços de poder em número razoável e as tentativas de silenciá-las têm sido inúmeras. Notas públicas, mensagens de WhatsApp desqualificadoras, em suma: naturalização das violências simbólicas de gênero e racial sob diversos mantos. Foram vitimadas as coordenadoras da ADUNEB, uma professora do curso de Ciências Sociais e, recentemente, uma Pró-Reitora.

Somamos no esforço de romper com as estruturas de poder que relegam às mulheres papéis subalternizados, que geram obstáculos adicionais quando estas buscam alçar espaços histórica e majoritariamente masculinos. Por isso, compreendemos que o enfrentamento ao machismo e racismo, institucional ou não, é parte importante da luta por uma sociedade que respeite e oportunize igualdade e direitos a todos os indivíduos.

Nesses tempos de ameaças fascistas, estamos presenciando invasões intimidatórias de eventos virtuais que promovem as campanhas eleitorais de mulheres negras, bem como tentativas de silenciá-las no parlamento, no executivo e em outros espaços de luta política, por via de críticas desrespeitosas e até ameaças à integridade física e mental dessas mulheres.

Portanto, repudiamos toda e qualquer atitude que, de forma velada, subliminar ou direta, atente contra representações de grupos discriminados, especialmente de mulheres negras que ocupam ou se dispõem a ocupar espaços institucionais de poder. Isso quer seja por fascistas ou por não fascistas.

Para o enfrentamento ao fascismo, à criminalização da comunidade universitária, às práticas preconceituosas, à vulnerabilidade que nos traz o trabalho remoto em casa, não é muito repetir que necessitamos da união entre as/os trabalhadoras/es e, no caso, entre as mulheres. Que o jogo sórdido de práticas sociais machistas não nos coloque umas contra as outras. Que uma mulher não seja capaz de expor a outra com o fim de aniquilar a sua existência física e nem mesmo política. Que a ética que pauta a vida política das mulheres seja verdadeiramente aquela em que “mexeu com uma, mexeu com todas”.

Coordenação ADUNEB