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Professores das Ueba discutem conjuntura e desafios do movimento docente



 O primeiro dia do XII Encontro dos Docentes das Universidades Estaduais da Bahia (Ueba) foi marcado pela discussão sobre a conjuntura política do país e os desafios do movimento docente. O tema, discutido na mesa de abertura, nesta quinta-feira (4), teve como conferencista o professor da UFRJ, Mauro Iasi. O encontro das Ueba vai até sábado (6), na Uefs, em Feira de Santana. A ADUNEB participa da atividade com seis diretores e mais 12 delegados. 

Apesar das lutas da jornada de junho de 2013 e das conquistas da classe trabalhadora em inúmeras greves, a exemplo dos garis do Rio de Janeiro, a conjuntura mostra um cenário pouco positivo, tanto na política quanto na educação. Um período que será necessário ainda mais luta por parte da frente realmente de esquerda do país no enfrentamento aos governistas, que aliados da burguesia impõem a democracia de cooptação para apassivar parcela da classe trabalhadora. Essa é uma das reflexões do doutor em sociologia pela USP, professor Mauro Iasi.
 
O sociólogo iniciou a conferência com um resgate da história política e social do Brasil, desde o período de transição da ditadura burgo-militar até os dias atuais. Para Iasi, após o período militar, cedendo à pressão da classe trabalhadora e dos estudantes, a burguesia dominante fez a transição: mas sem perder o controle político do país. 
 
Iasi - pacto social de Lula implantou a democracia de cooptação da classe trabalhadora
 
A profunda desigualdade social levou a um cenário de difícil equação naquele momento: como incorporar pequenos ganhos à classe trabalhadora para minimizar os problemas mais graves e amortecer o possível inconformismo da massa? Para o professor da UFRJ, após vários governos autocráticos, foi no período Lula, após um pacto social com a elite burguesa, que se conseguiu equacionar a questão e permitir pequenos avanços á classe trabalhadora em troca do seu controle. Assim, como denominado pelo sociólogo Florestan Fernandes, foi instalada a democracia de cooptação, que serviu para capturar e apassivar uma grande parcela da classe trabalhadora.
 
Impacto nas universidades
 
Segundo Mauro Iasi, tanto os governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC) quanto de Lula e Dilma Rousseff possuem a mesma política de sucateamento da educação pública. Invés de compreender a educação como investimento, o discurso passa por reforma de gestão, redução de investimentos, privatização e modelo de gerência empresarial para retirá-la do espaço público.
 
A diferença, na prática, foi que o governo FHC implantou a política de redução das universidades, com recursos concentrados em poucas instituições, para que apenas essas pleiteassem a excelência no ensino. O restante da sociedade teria como outra possibilidade as empresas privadas de educação.
 
Já nos governos Lula e Dilma, o esperado incentivo à universidade pública, democrática, com qualidade em ensino, pesquisa e extensão não veio na proporção desejada. Houve o aumento das universidades federais, mas os investimentos não cresceram na mesma proporção, o que intensificou a precarização do trabalho docente e o sucateamento das instituições públicas de ensino superior. Instalou-se a política do produtivismo, em que recebe mais orçamento quem comprovar maior produtividade e eficácia. Na análise de Mauro Iasi, o resultado dessa lógica capitalista foi a desigualdade entre universidades e cursos. As instituições de ensino foram obrigadas a buscar recursos de outras instâncias, ou seja, captar fundos em parcerias, fundações, em cursos pagos de especialização etc. Instala-se a intensificação da mercantilização da educação.
 
Governo Lula e Dilma - investimento na educação pública superior foi abaixo do esperado
 
Por outro lado, para as empresas privadas de educação superior houve aumento de incentivos. Programas como Fies e Prouni passaram a levar recursos públicos e proporcionar lucro aos cofres nas faculdades particulares. Em geral, formando profissionais em cursos de baixa qualidade e com perfil moldado às demandas do capital. 
 
Crise nas estaduais
 
A política educacional imposta às universidades federais, graças à luta de professores, técnicos e estudantes teve resistência nas estaduais. Mas, na compreensão do sociólogo da UFRJ, o que se vê hoje por parte dos governantes é a tentativa de quebra das universidades estaduais. “É uma crise fabricada pelo governo, com a intenção de vender outro projeto de universidade e educação pública superior. A crise na USP é um exemplo recente do problema”, afirma Mauro Iasi.
 
A luta
 
Para o sociólogo, a propagada massificação da educação do governo petista não faz nada além do que levar o modelo de educação burguês a um maior número de pessoas, de maneira precarizada e despolitizada. “Precisamos intervir nesse processo. Criar de fato um novo modelo de educação pública, que seja coerente com nossas convicções sobre educação voltada à classe trabalhadora. E esse enfrentamento se faz por meio da luta social”, finalizou Mauro Iasi. 
 
Nesta sexta-feira (5), em grupos de discussão, os professores debaterão os temas: financiamento, carreira docente e saúde do trabalhador. Já no sábado, último dia do encontro, acontecem as plenárias sobre os assuntos discutidos no dia anterior, assim como a plenária final.