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Paralisação das UEBA: Professores, estudantes e técnicos em defesa das universidades estaduais


Raíza Rocha

Na última quarta-feira (19), professores, estudantes e servidores das quatro universidades estaduais da Bahia paralisaram suas atividades. A paralisação unificada de 24 horas foi para exigir do governo estadual a abertura imediata de concurso público para professor e técnico administrativo, a revogação da Lei 7176/97, o respeito à autonomia universitária, o cumprimento do Estatuto do Magistério, assistência estudantil e o aumento do orçamento das UEBA. A data foi marcada ainda pelo repúdio às leis substitutivas à 7176/97, apresentadas pelo governo, que representam um ataque ainda maior à autonomia universitária.

Na UNEB (campus I), pela manhã, professores, estudantes e servidores tomaram café da manhã em frente ao portão principal de acesso ao campus, enquanto distribuíam uma carta à sociedade baiana que explicava os motivos do protesto.
No campus VII, Senhor do Bonfim, os docentes, técnicos e discentes se reuniram no auditório do departamento e discutiram a política do governo do estado para com as UEBA. Segundo o professor Hilder Magalhães, do departamento, o dia Estadual Unificado de Paralisação em Bonfim “foi um espaço de discussão e construção de ações que visem a mobilização dos três segmentos embasada no pensamento crítico, responsável e consciente em prol de um dos maiores patrimônios baianos: as UEBA.”

Em Barreiras, campus IX, apesar dos portões continuarem abertos, as atividades foram paralisadas. Nos três turnos, foi exibido o vídeo do II Congresso da ADUNEB e discutido as minutas substitutivas à 7176/97. Segundo Ana Jovina, professora do departamento, “na discussão contamos com a valiosa ajuda dos colegas professores da área de contábeis e direito, buscando explicar capítulo por capítulo os motivos pelos quais rejeitamos a proposta do governo”.
 
Movimento faz ato público na SAEB e na Governadoria


Raíza Rocha

Na parte da tarde, o movimento docente, estudantil e dos servidores das quatro universidades se concentraram na frente da SAEB para protocolar uma solicitação de audiência com o Governador e o Secretário de Educação. O documento, segundo o coordenador do Fórum das ADs, professor Alexandre Galvão, foi também encaminhado e protocolado na SAEB como protesto à ingerência freqüente dessa secretaria nos assuntos que dizem respeito à educação. “O ato começa na SAEB devido à interferência autoritária da secretaria de administração nas negociações sobre educação. E como se não bastasse, no final de julho, a SAEB apresentou, em surdina, aos Reitores uma proposta de lei substitutiva à 7176 muito pior que a atual”, afirma Alexandre.

Com palhaços, poesia e batucada, o movimento denunciou a falta de professores e técnicos administrativos na universidade, a ausência de assistência estudantil que garanta a permanência dos estudantes na sala de aula e o estrangulamento orçamentário pelo qual passa as UEBA.

Em seguida, cerca de 100 ativistas foram em caminhada à governadoria para protocolar a solicitação de audiência com o Governador. No documento, o movimento representado pelo Fórum dos DCEs, das ADs e dos técnicos administrativos, exige uma reunião com Jaques Wagner para discutir as minutas de leis, apresentadas pela SAEB e CODES, e a pauta emergencial formulada pelas três categorias.
 
O silêncio como descaso

Raíza Rocha

Segundo Alexandre Galvão, esta segunda paralisação das UEBA é fruto do silêncio do Governador em relação à situação das universidades estaduais. No dia 4 de junho, o movimento docente organizou uma paralisação contra os decretos de contingenciamento impostos à Educação Superior. Neste dia, fruto da mobilização, o movimento foi atendido pelo secretário de Relações Interinstitucionais, Rui Costa, que prometeu retorno, em 15 dias, sobre a pauta do movimento. No entanto, a promessa não foi cumprida.

No dia 15 de julho, ainda sem respostas, o movimento protocolou uma solicitação de audiência com o Governador. O mês de agosto se iniciou e o movimento continuou sem respostas. “Desde a última paralisação, ocorrida no dia 4 de junho, não houve avanço nas negociações com o governo e por isso estamos paralisados novamente”, afirma Maria do Socorro, diretora da ADUNEB.

Após as mobilizações e a cobertura midiática intensa sobre o movimento, o governo lançou uma nota publicada no site da Secretária de Educação e divulgada à imprensa sobre as supostas atitudes tomadas pelo governo para solucionar os problemas das UEBA. No entanto, o que se percebe nas palavras do governo é uma tentativa de enganar e manipular dados e fatos. Veja:
 
O Governo diz.... mas os fatos...
 
                        O governo diz....                               
mas os fatos...
“O Governo do Estado autorizou nesta terça-feira (18) a realização de concurso público, visando o preenchimento de vagas remanescentes para o cargo de professores efetivos para as universidades estaduais.” Esse concurso não se trata de expansão de novas vagas, mas sim de vagas já existentes e que não foram preenchidas nos concursos passados. Portanto não atende às necessidades da ampliação do quadro docente.
 “Também está em curso um estudo visando a ampliação do quadro docente.”  Reitores e o movimento docente já apresentaram o raio X das Universidades ao Governo. Falta apenas vontade política. A desculpa do “estudo” é só para legitimar a demora (2 anos) em solucionar os problemas das UEBA.
"Desde o início de sua gestão ele tem demonstrado grande interesse no fortalecimento das universidades estaduais, colocando este setor como uma das prioridades, que se traduzem em um conjunto de ações, gerando  importantes mudanças nestas instituições”  Os decretos de contingenciamentos impostos às UEBA, no início do ano, com a desculpa da crise econômica, demonstram o descaso do governador com o Ensino Superior. O Governo tira da educação, mas não tira as regalias dos empresários: empresas que demitiram ou ameaçam demitir trabalhadores, com a desculpa da crise, continuam com isenção fiscal.
"Verificou-se um crescimento da dotação orçamentária para as universidades de 49%, passando de R$ 386,8 milhões, em 2006, para R$ 578,4 milhões este ano.”  O valor demandado pelas UEBA é de 690 milhões para este ano.
"Para o ano de 2010, mesmo com a crise econômica internacional, verificou-se um incremento de 11% no orçamento, o que representa um orçamento total de R$ 642,330 milhões."  O anúncio de 642 milhões para o ano de 2010 é insuficiente. Irá manter as UEBA no mesmo estrangulamento orçamentário deste ano ou até mesmo pior.
A Reitoria diz ... mas os fatos...
“Reitoria da UNEB autoriza repasse imediato de recursos, no montante de R$ 2.347.960, para todos os Departamentos - Volume corresponde à quinta e sexta cotas do QCM. O reitor, devido a atrasos no QCM, autorizou o repasse imediato dos valores para os 29 departamentos - o que não foi possível fazer hoje (dia 19), em virtude da paralisação ocorrida na universidade.” (página da UNEB) O repasse da QCM foi fruto da mobilização do movimento docente. A ADUNEB, desde o início do ano, pressionou o Reitor e o governo para que efetuassem o pagamento da quota mensal para os departamentos sem atrasos. Desde março, o QCM estava atrasado e as duas paralisações das UEBAS, neste ano, foram fundamentais para que essa situação se revertesse.