Opiniões e Debates

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Uma mulher contra direitos das mulheres não nos representa!

 *Marluce Freitas de Santana

O dia 10 de dezembro de 2018 poderia ser de comemoração no Brasil! Afinal, somos um país que, nas últimas décadas, vem avançando em conquistas de direitos humanos. A Constituição Federal de 1988 e seus desdobramentos são marcos legais da garantia desses direitos. No entanto, a onda conservadora que ameaça arrastar o país a profundo retrocesso tem aturdido a todos e todas. As notícias de extermínio de lideranças dos movimentos sociais, a exemplo do brutal assassinato de dois líderes do MST paraibano, no último dia 08 de dezembro, a dois dias do aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a matança de LGBTs, sinalizam tempos sombrios e de desrespeitos aos Direitos Humanos. A nomeação da pastora Damares Alves para ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos acende o alerta das organizações defensoras dos direitos das mulheres, dos LGBTI+, dos indígenas, dos/as negros/as no Brasil. O histórico da atuação política e as diversas declarações da pastora Damares representam o que se tem de mais retrógrado sobre os direitos das mulheres e retroagem anos luz de conquistas civilizatórias das sociedades modernas e pós-modernas. A negação da laicidade como princípio constitucional, ao declarar que “chegou a vez dos evangélicos" e a defesa ostensiva do projeto “Escola sem Partido" nos remete ao medievo teocêntrico dos domínios feudais. Dizer que as mulheres nasceram para serem mães e que o ideal era que todas as mulheres pudessem ficar dentro de casa sob a tutela e dependência dos maridos é ignorar todo um processo de luta e enfrentamentos que as mulheres, organizadas ou não, protagonizaram para conseguirem ser o que quiserem e se libertarem dos grilhões e mordaças impostos pelo domínio machista e patriarcal. 

Que é isso, ministra! Querer confinar as mulheres ao espaço doméstico, ao papel pré-determinado pelo machismo burguês é, no mínimo, ignorância de uma historicidade que fez dos movimentos feministas aglutinadores de força e potência modificadoras das relações sociais e políticas das sociedades modernas, mobilizando a luta pelos direitos das mulheres e de outros grupos subalternizados. Fazer ressurgir dos porões do proselitismo religioso o confinamento das mulheres a uma condição biológica de clausura a um “destino de mulher" é desconhecer o quanto foi e é caro para as mulheres conquistar o direito de poder tomar as rédeas da própria vida e escolher o próprio destino. 

Não, senhora ministra do conservadorismo e atraso! Não vamos estender nossos pulsos para as algemas do passado! Antes disso, continuaremos a erguer nossos punhos cerrados em sinal de força e resistência, contra qualquer ataque ou retrocesso aos direitos conquistados. Continuaremos vigilantes, em defesa do direito das mulheres ao próprio corpo, no combate a todo e qualquer tipo de violência de gênero, à LGBTfobia, denunciando e cobrando políticas de combate ao feminicídio, lutando contra o extermínio das populações indígenas, negras e pobres desse país. Estaremos no front contra a criminalização dos movimentos sociais e denunciando as injustiças do campo e da cidade, que são financiadas pelos grupos de poder aos quais a senhora se alinha. 

*Profa. Marluce Freitas de Santana-UNEB
Coordenadora da pasta de Gênero,Etnia e Diversidade - ADUNEB