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Projeto de educação voltado à classe trabalhadora é discutido no ENE



 A mesa de abertura do II Encontro Nacional de Educação (ENE) aconteceu na manhã desta sexta-feira (17), no Centro Comunitário da Universidade de Brasília. Com o tema “Por um projeto classista e democrático de educação, contra o ajuste fiscal e a dívida pública”, a atividade reuniu mais de 2 mil participantes. 

Primeiro a falar, o estudante chileno José Villarroel, representante do Centro de Estudantes de Sociologia da Universidade Alberto Hurtado, trouxe para o debate a experiência de seu país, desde o período militar, de Augusto Pinochet, de 1973 a 1990, até a intensificação de um projeto neoliberal dos dias atuais. De acordo com Villarroel, a partir da ditadura todos os planos do neoliberalismo foram implementados no país, tornando-se um laboratório para a expansão do capital na América Latina. Ao trazer a discussão para o atual momento, o estudante, traçou um paralelo de semelhanças entre Brasil e Chile. Para ele alguns pontos em comum são o processo de reorganização da esquerda, a criminalização dos movimentos estudantis e sociais imposto pelos governos, a corrupção na gestão pública, e o governo voltado aos interesses do empresariado. Na luta contra a privatização da educação, uma grande quantidade de escolas e universidades estão ocupadas pelos estudantes chilenos, que exigem a educação gratuita. Como resistência ao atual momento, tanto no Brasil quanto no Chile, o palestrante defendeu a unidade de luta entre estudantes, movimentos sindicais e sociais.
 
Representante da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas, Mauro Puerro, demonstrou como o ajuste fiscal e a dívida pública impactam a educação e outros setores sociais do país. Para Puerro, o atual ajuste fiscal, com a imposição do corte de verbas e a precarização do trabalho atacam diretamente os setores mais vulneráveis da sociedade, a exemplo das comunidades negras, de mulheres, periféricas, LGBT, entre outras. O sindicalista afirmou que 47% do orçamento nacional é destinado ao pagamento da dívida pública brasileira, recursos que deixam de ser destinados à educação, saúde, segurança e são repassados aos fundos de investimento e organizações bancárias. Com a alegação do ajuste fiscal, no ano passado, o governo Dilma Rousseff cortou 70 bilhões das áreas sociais. De acordo com dados da Auditoria Cidadã da Dívida Pública, desse valor, cerca de 26 bilhões foram da educação. Mauro Puerro, comentou ainda sobre o perigo que representa a aprovação do PL 257/16 ao conjunto do funcionalismo público (leia mais). Antes de finalizar, Puerro ressaltou a intensificação dos ataques no governo interino de Michel Temer. “Temos que nos levantar contra o conjunto de leis que impactam a classe trabalhadora, que retira dos pobres e entrega aos ricos”, comentou. Para encerrar, defendeu a união das centrais sindicais e a construção da greve geral.
 
Público lotou a mesa de abertura do evento
 
A diretora do ANDES-SN, Olgaíses Maués, fez uma análise de conjuntura sobre o atual cenário da educação brasileira e qual a educação que desejamos. Para a docente, o II ENE acontece em meio a uma profunda crise política, ética e moral brasileira, com mais de 10% de inflação ao mês. Para intensificar a crise o presidente interino Michel Temer assume e compõe um governo em que quase 70% de seu ministério é acusado de algum tipo de corrupção. A professora citou o projeto Escola Sem Partido como um programa nefasto, empregado pelos setores conservadores da política brasileira, que tentam impor a ideologia dominante proibindo nas escolas que os professores façam discussões relativas à política, gênero, questões raciais etc. A ideia é a educação a favor do capital. Sobre um novo projeto de educação a ser construído, a representante do ANDES-SN afirmou que o objetivo é a construção de uma educação que auxilie a pensar e não a obedecer, que acredite em uma proposta que pensa na educação para além do capital. Olgaíses Maués vê as discussões que surgirão no II ENE, a partir dos eixos de discussão dos grupos de trabalho, como um alicerce para um novo projeto educacional.
 
Após as falas dos integrantes da mesa, aconteceu o debate com a participação da plenária. No período da tarde ocorreram as reuniões dos grupos de trabalho, que debateram os eixos temáticos: gestão; financiamento; avaliação; trabalho e formação dos trabalhadores da educação; acesso à permanência; gênero; sexualidade; orientação sexual e questões étnico-raciais. Na manhã deste sábado (18) estão previstas as apresentações dos painéis temáticos. Já no período da tarde será realizada a plenária final, que terá a apresentação de uma síntese das discussões dos grupos de trabalho.

Homenagem
 
Antes da mesa de abertura o ANDES-SN realizou uma homenagem ao companheiro de lutas, professor Márcio Antonio de Oliveira, que faleceu no último da 13.06. O docente era um dos diretores eleitos para dirigir o Sindicato Nacional no mandato 2016 / 2018. Querido por todas/os do Movimento Docente, professor Márcio era um incansável militante da educação, um defensor do ensino público, gratuito, laico, de qualidade e socialmente referenciado. Ele foi presidente do ANDES-SN entre 1992/1994, secretário-geral de 1986/1988 e 2010/2012 e 2012/2014.
 
Presidente do ANDES-SN Paulo Rizzo homenageia prof. Márcio de Oliveira