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Luta e resistência – ADUNEB discute povos indígenas e quilombolas em videoconferência

 Criar mais espaços de discussões nas universidades para a reflexão sobre as causas indígenas e quilombolas; trazer a luta e resistências desses povos perseguidos para dentro dos sindicatos e unificar a luta. Essas são duas das conclusões extraídas da videoconferência sobre povos indígenas e quilombolas, promovida pela ADUNEB, na última sexta-feira (17). A atividade teve a participação dos conferencistas professor Emerson Lucena, biólogo e líder sindical da Universidade Estadual da Santa Cruz, e Juari Pataxó, liderança indígena da região de Porto Seguro, Sul da Bahia. A discussão, mediada pela diretora estadual da ADUNEB, Ediane Lopes, aconteceu como debate preparatório para o Seminário Nacional sobre Povos Indígenas e Quilombolas, organizado pelo ANDES-SN e ser realizado, de 14 a 16 de novembro, em Brasília.

Para Emerson Lucena, presidente da Associação Docente da Uesc, o Sistema Capitalista faz um ataque frontal aos trabalhadores e as minorias, entre elas, os povos indígenas e quilombolas. Atua na retirada dos direitos adquiridos como, por exemplo, as demarcações das terras. “O sistema utiliza a lógica capitalista para gerar lucro e não se preocupa com o uso racional dos recursos naturais”, diz Lucena.
 
Para debatedores capitalismo atua na retirada de direitos de índios e quilombolas
 
Segundo o biólogo, quando se pensa em um projeto de sustentabilidade é necessário pensar também em transformação social, o que passa necessariamente pelas universidades e pela educação ambiental. Somado às questões educacionais, no enfrentamento ao problema, Lucena defende a solidariedade e a unificação das lutas sindicais com as indígenas e quilombolas. “Só na região de Ilhéus, desde o começo do ano, já ocorreram dez assassinatos de índios no conflito pela terra. Temos que avançar nas denúncias e na luta pelas minorias”, diz o professor. Ainda sobre o conflito pelo território, Lucena fez a denúncia que, em todo Brasil, apenas 7% das comunidades quilombolas têm oficialmente os títulos definitivos de suas terras.
 
Resistência Pataxó
 
Para a videoconferência o superintendente de assuntos indígenas do município de Porto Seguro, Juari Pataxó, trouxe as experiências de luta de seu povo. Com falas carregadas de força e dor, o líder indígena compartilhou os ensinamentos de cultura Pataxó. Iniciou relembrando parte da história de sua comunidade. Na luta pela terra, que deveria ser deles por direito, teve o avô assassinado e vários parentes perseguidos. “Meu povo já nasce com o compromisso de continuar a luta”, afirma Juari. Ele fez um relato emocionado da tragédia histórica conhecida como Fogo de 51, em que dezenas de homens brancos, liderados por policiais e fazendeiros massacraram a população Pataxó da aldeia da Barra Velha, em 1951, ao Sul da Bahia.
 
Vários campi contribuíram com as discussões
 
O líder indígena mostrou que os Pataxós foram obrigados a se adaptar para que pudessem reforçar a luta e resistência contra o processo de exploração a que tentam submetê-los. A partir de 1999, iniciaram um projeto de ecoturismo na Reserva da Jaqueira. Com grande preocupação ecológica, de sustentabilidade e de preservação cultural, atualmente, o local é visto como referência nacional quanto a projetos turísticos sustentáveis e equilibrados. 
 
Sobre a luta e resistência indígena, o Pataxó acredita que a universidade tem um papel importante. Segundo Juari, é fundamental que instituições de ensino abram mais espaços de discussão sobre as questões indígenas e quilombolas. É necessário debater o problema, ir ao campo, conhecer a realidade das minorias e auxiliar, por exemplo, com o levantamento de dados e documentos que auxiliem à causa indígena.