Notícias

O professor do século XXI



Em tempos de disseminação do Ensino à Distância, de truculência policial contra professores e da desvalorização da profissão pelos governos, o que é ser professor no século XXI?

Não muito tempo atrás, era comum ouvirmos nas escolas o desejo de muitos estudantes tornarem-se professores. “Quando eu crescer, quero ser professor!”. O que movia tais alunos era a vontade de cumprir um papel social ao incentivar a curiosidade dos jovens e despertar o saber crítico, contribuindo para o desenvolvimento do país. Hoje, na maioria das vezes, aquele que expressa seu desejo em ser professor é recebido com desdém pelos seus colegas. Mas o que mudou?

Certamente, não foi o papel social que cabe à profissão e aos seus profissionais. Sabemos que a educação por si só não muda a realidade, nem tão pouco o professor na sala de aula é sozinho o agente transformador. Mas, uma educação de qualidade e docentes qualificados são instrumentos poderosos para que haja mudanças, pois podem ser ferramentas de conscientização da realidade e da capacidade do homem em modificá-la.

Todavia, essa ação política e transformadora vem sendo minada pela desvalorização sistemática do ato de educar, pois há décadas, a educação e os trabalhadores do setor sofrem fortes ataques de governantes e da patronal. O vídeo da professora Amanda Gurgel, veiculado pelo youtube, que teve quase 3 milhões de acessos, sintetiza, de forma simples e objetiva, a atual situação da categoria e da Educação Pública no país (reveja aqui). Salários baixos, condições precárias de trabalho, doenças ocupacionais, assédio moral, falta de estímulo à formação continuada, lógica produtivista na pesquisa, meritocracia, falta de estrutura nas escolas e universidades, dentre outros problemas que atravessam o cotidiano de professores e alunos país a fora. 

Recentemente, ouvimos do Governador do Ceará, Cid Gomes, durante o processo de greve dos professores no Estado que o docente “deveria trabalhar por amor e não por dinheiro”. Tal comentário desvaloriza o trabalho do professor e pretende justificar os baixos salários. Afinal, as contas não são pagas com amor!  Este mesmo governador ainda mandou a tropa de choque reprimir professores grevistas que se manifestavam na Assembleia Legislativa do Ceará. A fala e ação de Cid retratam, de modo infeliz, como hoje os governantes tratam a Educação no país: deixam a educação à míngua, submetendo os trabalhadores ao arrocho salarial. E quando estes se organizam para reivindicar condições dignas de trabalho, seus movimentos são criminalizados! Na UNEB, por exemplo, a greve docente deste ano foi considerada ilegal e, além disso, os professores tiveram seus salários cortados pelo Governo Wagner.

Apesar de toda a política de desvalorização do trabalho docente e do sucateamento da Educação, os docentes resistem e seguem dando exemplo! Neste ano de 2011, os professores mostraram mais um dos seus papéis na sociedade. Enquanto parte da classe trabalhadora, resgataram os seus instrumentos de luta e mobilização e foram às ruas!

Na Bahia, Rio Grande Norte, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Maranhão, Amapá, Paraíba, Piauí, milhares de professores deflagraram greve por melhores salários e condições de trabalho! Enfrentaram a truculência dos governos e conquistaram o apoio da população! Ocuparam prédios públicos, realizaram manifestações nas estradas, aliaram-se a outras categorias como aos Bombeiros do Rio de Janeiro, organizaram passeatas, assembleias e aulas públicas. Cada ação, em cada canto do país, ainda que em momentos distintos, buscou resgatar a dignidade dos professores, tão ameaçada pelas políticas dos governos. No ano de 2011, os professores deram mais um exemplo para aqueles estudantes que sonham um dia ser professor: é preciso lutar, é possível vencer!

Por toda esta capacidade de organização e mobilização, por acreditarmos no papel social e político desta categoria, saudamos todos os companheiros e companheiras que faz cada dia ser “o dia do professor”.