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Mulheres são maioria na educação infantil e minoria no ensino superior



Por Najla Passos
ANDES-SN

As mulheres são 97% da força de trabalho na educação infantil e 81,5% no magistério da Educação Básica, mas apenas 45,6% no Ensino Superior do Brasil. E em se tratando de ensino superior, elas são maioria nas instituições privadas (46,3%) e minoria nas públicas federais (42,6%). Os dados, da Sinopse do Professor da Educação Básica de 2010 e do Censo da Educação Superior de 2009, demonstram que a sociedade brasileira ainda imputa à mulher o papel de “cuidadora”, além de reservar para os homens os melhores salários do mercado de trabalho.

“Para os homens, ciências, matemática. Para as mulheres, prendas domésticas. Para os homens, comando. Para as mulheres, cuidado. Embora tenhamos discutido e questionado tanto essa naturalização de lugares, continua difícil romper essas barreiras. Nas universidades, a direção, os cargos de comando, as funções de maior prestígio continuam sendo dos homens. A coordenação dos cursos, que diz respeito a uma aproximação maior com alunos(as), o ‘cuidado’, que gera muito trabalho, é mais ocupada pelas mulheres. O meio acadêmico é um lugar como outro qualquer da sociedade brasileira: lugar de reprodução da desigualdade de gênero. De pouco esforço para a mudança”, afirma a Jorgetânia Ferreira, membro do Grupo de Trabalho Etnia, Gênero e Classe do ANDES-SN.

A presidente do ANDES-SN, Marina Barbosa, concorda que os homens ainda dispõem dos melhores postos de trabalho, mas enaltece o espaço acadêmico como lócus privilegiado para a transformação. “As desigualdades ainda são muitas no Brasil. Basta tomar como referência dados apresentados recentemente pelo Dieese, onde é apontado que a mulher no Brasil recebe 75,7% do valor pago aos homens para desempenhar as mesmas funções. Nos cargos com nível superior completo a diferença de remuneração é ainda maior: 63,8%. Entretanto, no caso específico do meio acadêmico, temos uma situação diferente. Se, por um lado, ele reproduz a cultura, as contradições, as relações estabelecidas no conjunto da sociedade, por outro, se autodefine como o espaço do novo, do inédito, do debate e do questionamento e, neste aspecto, a perspectiva do feminino pode ser mais enriquecedora”.

Gênero nos sindicatos
A presidente do ANDES-SN é cuidadosa ao afirmar que a questão de gênero é trabalhada de forma ampla no meio sindical, de acordo com as diferentes correntes, tendências e vertentes. “No caso do movimento sindical de esquerda, no qual o ANDES-SN se insere, a luta da mulher não observa somente a questão de gênero, mas fundamentalmente a questão de classe, entendendo que a exploração capitalista atinge a mulher de maneira ainda mais cruel que os homens. Além disso, defendemos que a mulher esteja inserida nas lutas da classe trabalhadora”, ressalta.

Jorgetânia acredita que, no geral, o meio sindical ainda trata a questão de gênero como apêndice ou problema secundário. “Não vejo esforço de construção de condições para que as mulheres possam participar efetivamente. Não são levadas em conta as diferenças entre ser homem e ser mulher, historicamente construídas. Quando um homem assume um papel importante na política, inclusive sindical, se ele tem uma companheira,  se espera que ela crie as condições materiais e emocionais para que ele possa desempenhar bem para essa atividade. Quando uma mulher assume uma função importante ELA precisa criar as condições para desempenhar  essa tarefa, ela precisa conseguir quem cuide de seus  filhos, em geral em redes de mulheres: mães, sogras, irmãs, trabalhadoras domésticas”, exemplifica.

Para a professora, os homens, mesmo nas universidades e no movimento sindical, em geral não mudam e o Estado não oferece políticas de atendimento às crianças. “A mulher tem ainda que se esforçar muito para justificar junto ao companheiro a sua inserção na política. A mulher não tem apoio para assumir novos desafios. Ao contrário. Muitas pessoas nos lembram que temos que cuidar de nossos filhos, porque é nossa responsabilidade. Ninguém cobra isso dos homens e, por isso, quando nós mulheres assumimos funções no movimento sindical também assumimos, em geral, com culpa”, acrescenta.

Dilma presidente!
A eleição da primeira presidente do país é um fato simbólico importante, mas por si só não garante melhorias para as mulheres. “Foi em função das muitas lutas das mulheres que uma mulher pode se tornar presidenta. Sem luta nós nem votávamos, quanto mais ser votadas. Acredito que a eleição da primeira mulher presidenta do Brasil tem um simbolismo importante no sentido de pensar que o lugar da mulher é também na política, é onde ela queira estar. Agora a luta das mulheres socialistas continua sendo a mesma: tensionar para que haja mudança, para que as políticas públicas levem em conta as diferenças e contribuam para equidade de gênero. E isso não está garantido porque a presidenta é mulher”, afirma Jorgetânia.

Maria Barbosa Pinto corrobora. “É um fato inédito ainda mais em um país tão machista. Pela primeira vez na história do Brasil, uma mulher assumiu a presidência do país. Dilma Rousseff trouxe o maior número de ministras mulheres. Não há como negar a importância desse fato quando a cada duas horas a violência machista mata uma mulher no Brasil. Mesmo assim, o que nos move prioritariamente é a questão da classe, por isso defendemos que as mulheres trabalhadoras se somem aos demais trabalhadores  e lutem por aumento de salários, mais empregos, condições de trabalho dignas, saúde e  escola públicas e a previdência pública e o direito de se aposentar a não flexibilização dos direitos trabalhistas; a defesa dos servidores e dos serviços públicos, assim como outras bandeiras da classe e da população miserável deste país”, destaca.


Presidente ou presidenta?
Marina ressalta que, de acordo com o aspecto lingüístico, as duas formas são aceitas. “Presidente pode ser forma comum para os dois gêneros, assim como existe também a forma presidenta. A escolha do ponto de vista linguístico é questão de estilo. O que se julgar preferível, as duas formas são aceitáveis, em que pese que presidenta não seja usual na língua. Não se fala Presidenta do Sindicato, apesar dessa forma teoricamente existir”.

Jorgetânia, porém, opta pelo uso da segunda forma. “Em  termos da afirmação da luta das mulheres eu prefiro utilizar presidenta. Por que a linguagem também é social e temos que  tensionar para sair do masculino, tomado como universal”, esclarece.


Bandeiras de luta para o período
A presidente do ANDES-SN destaca a violência contra a mulher como um dos problemas mais graves do país. “Precisamos exigir o fim da violência contra a mulher, a aplicação e ampliação da lei Maria da Penha”. Mas ela também aponta outras questões específicas. “A mulher trabalhadora precisa de licença-maternidade de seis meses, com creches gratuitas e em período integral para todos os filhos da classe trabalhadora. A legalização do aborto é fundamental para que milhares de mulheres não morram em nosso país em decorrências de abortos mal feitos”, pontua.

Porém, para além das pautas específicas, Marina ressalta que as mulheres, em especial as mulheres docentes do ensino superior, precisam assumir a luta pelas resoluções políticas e pelos planos de ação que aprovados no 30º Congresso do ANDES-SN, realizado em Uberlândia (MG), de 14 a 21/3. “Defendemos que as mulheres estejam com os homens trabalhadores defendendo seus direitos de classe no governo Dilma. Por exemplo, o Jubileu Sul está lançando uma campanha Jubileu Sul ‘A dívida não Acabou! Você paga por ela. Auditoria já!’. Temos também a luta por mais recurso para a educação, no enfrentamento ao PNE do atual governo, dentre outras”.

Jorgetânia concorda que são muitas as lutas que se impõem na atual conjuntura. “A luta contra a desigualdade, contra o projeto neoliberal que responsabiliza cada uma de nós pelo nosso sucesso ou fracasso. A luta contra a mercantilização de nossos corpos e contra um padrão de beleza inatingível à maioria e causador de tanta infelicidade. A luta por políticas públicas que favoreçam o cuidado de crianças, idosos, deficientes, doentes, que pesa sobremaneira sob as mulheres. A luta contra a violência que vitimam mulheres a todo instante. A luta por uma educação que promova liberdade e criatividade para que todas as pessoas possam ser o que desejam”, enumera.

Importância do 8 de Março
Marina lembra que já faz mais de um século que esta data é comemorada como um dia de luta. “Em 1910, a socialista alemã Clara Zetkin propôs na 2ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas a criação do Dia Internacional da Mulher. O objetivo era homenagear as 129 operárias da fábrica Cotton (EUA) que foram assassinadas em 1857 por reivindicar direitos. Essa data hoje é conhecida mundialmente. No dia 8 de março as mulheres vão às ruas levantar as suas bandeiras”.

Jorgetânia também aponta o caráter de luta da data. “O 8 de março é um dia de luta, marco da luta histórica das mulheres, especialmente das socialistas, por igualdade econômica, autonomia, direito ao voto. A comemoração em 8 de março é resultado das lutas e articulações que foram ocorrendo em vários países no final do século XIX  e inicio do século XX  e que a partir de 1922 se tornou oficialmente o Dia Internacional da Mulher”. 

Ela destaca, entretanto, que a luta das mulheres deve ocorrer todos os dias, e não ficar restrita a uma data que vem sendo apropriada cada vez mais pelo comércio. “Penso que a nossa luta é todo dia! Ter um dia para comemorar, trazer à memória as muitas lutas, dar visibilidade aos nossos problemas como mulheres é muito importante. E no Brasil, nós temos muito a avançar em termos de igualdade de gênero. É preciso superar marcas históricas para que as mulheres possam exercer seus direitos e por isso é tão importante o dia 8 de março, como dia de luta. Mas tem sido apropriado como dia de flores. Queremos flores em 8 de março. Mas preferimos ter nossos direitos respeitados todos os dias”.